Organização e Escuta
A organização dos cantores e do local do ensaio também é importante. Não importa se você ensaia em uma sala com boas condições acústicas e possui um instrumento a disposição do coro, ou se você ensaia em uma sala de reuniões de uma empresa ao redor de uma mesa, ou no salão da igreja, ou até mesmo na cantina da escola. De qualquer forma, o regente precisa estar atento à disposição dos cantores para verificar se a escuta do grupo é ativa, ou seja, se os cantores escutam a si próprios e os colegas e se a partir desta escuta participam ativamente no processo harmônico e melódico da canção.
Segundo JORDAN James em Ear Training Immersion Exercises for Choirs, 2004, é necessário fazer de cada ensaio e de cada exercício uma experiência musical.
Pensando nisso, a voz é o canal, ou seja, o primeiro instrumento que dispomos para produzir o som. Partindo de uma referência podemos cantarolar uma melodia simples escrita somente com o uso da voz, sem a ajuda de instrumentos e assim compartilhar o que nos interessa: a música.
Durante o processo de ensaio acontecem diferentes relações de ensino aprendizagem e o uso da voz requer preparação para que o cantor possa utilizá-la como instrumento.
Como tratar dos aspectos técnicos musicais como projeção e ressonância da voz, timbre, articulação, solfejo, dinâmica e inspirar os alunos a fazer música?
Jordan enfatiza a prática do solfejo não somente como repetição da linha melódica, mas como constante criação de um ambiente harmônico – o material da música.
Solfejar significa entoar o nome de uma nota com a altura e a duração em que ela é escrita na partitura, ou seja, cantar o nome da nota na altura e no seu tempo de duração correto. Durante um ensaio com um coro comunitário esta prática pode não ser tão produtiva, já que há uma necessidade de otimização do tempo de ensaio e quase sempre uma parte dos cantores do coro ou o coro todo não leem partitura. Sugiro que ao invés do solfejo o regente utilize sílabas para a realização dos exercícios.
Dr. Jordan, considerava-se ingênuo em relação ao que os cantores realmente ouviam durante os ensaios. Diante dessa percepção iniciou um processo em que direcionava, através dos exercícios vocais, a escuta dos alunos transformando uma escuta passiva em escuta ativa.
Neste material, desenvolvido por ele e Marilyn Shenenberger, pode se notar o quão importante é transformar os exercícios em experiências musicais proporcionando um ambiente harmônico rico para o coro e consequentemente para a atuação na prática de música em conjunto.
Os usos desses exercícios trabalhados e adaptados ao repertório proporcionaram uma melhora significativa na qualidade auditiva e musical dos alunos.
Podemos tomar como exemplo um exercício vocal cromático, ascendente onde se repetem as quatro primeiras notas, seguindo em graus conjuntos até a terça maior e retornando para a tônica.
Nesta frase podemos trabalhar várias questões musicais como respiração e o espaço interno necessário para fazer uma boa emissão vocal, permitindo a afinação de notas iguais e intervalos conjuntos ascendentes e descendentes. Pode se utilizar a sílaba No (lê-se nôô), para trabalhar o espaço e profundidade ou Di (lê-se dêê) para trabalhar o espaço e a projeção da voz.
Podemos ainda ressaltar vários tipos de articulação, experimentando algumas variações, como non legato para as quatro primeiras notas e legato para as demais, ou ainda staccato e legato. Depois de organizados, a sonoridade e a articulação, incluímos a dinâmica, estabelecendo crescendo no início da frase e decrescendo ao final da frase ou podendo ainda contrastar com uma repetição non expressiva, ou seja, sem expressão.
Escuta Ativa
A respeito da escuta ativa, é importante levar o coro a identificar em qual região do acorde, que dá suporte harmônico ao exercício vocal, estão as notas cantadas na linha melódica. No momento em que o coro identifica estas questões a reação dos cantores é muito positiva e receptiva para outros exercícios. Eles relatam muitas vezes que percebem durante a produção vocal as questões musicais citadas anteriormente com clareza, e que essa experiência vocal possibilita que eles tenham uma maior percepção da música que estão fazendo enquanto tocam um instrumento.
Jordan enfatiza vários pontos que necessitam da atenção do professor/regente para um bom desempenho dos exercícios[1]:
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Entenda o que o grupo está realmente ouvindo;
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Forneça âncoras auditivas sempre que possível, tanto no aquecimento quanto no processo de ensaio;
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Envolva os cantores em todos os momentos com a riqueza harmônica e qualidades de cada tonalidade;
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Não subestime o poder do solfejo das sílabas dentro de um ambiente harmônico;
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Mova o grupo coral de audição passiva para audição ativa;
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Transforme e altere a profundidade de escuta dos cantores.
O regente deve estar atento ao processo de escuta dos cantores. Isso irá possibilitar um melhor resultado sonoro em relação ao desenvolvimento da qualidade individual da voz do cantor, da qualidade e do equilíbrio desta voz em relação ao naipe em que está inserido (soprano, contralto, tenor e baixo) e da produção da voz do cantor em relação ao grupo todo.
Como sugestão para desenvolvimento da escuta indicamos o exercício 10 da preparação vocal.
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